Vispa Teresa di Borgo Ala - 24/03/1990 - 02/02/2007
A primeira vez que vi Teresa ela saía do meio de uns arbustos, seguida de perto por seus irmãos, em um lindo jardim de uma casa em Baldissero, uma cidade nas colinas perto de Turim, onde eu então morava. Teresa tinha 4 meses, uma bolinha de pelos espetados onde tons de azul e creme se misturavam deixando-a com uma coloração indefinida. Um ferimento na vista direita a eliminou da venda para criadores e foi assim que o Destino a colocou nas minhas mãos. Na testa, sua marca registrada, um triângulo creme invertido que sempre me lembrou da tiara da Mulher Maravilha. E Teresa merece ser chamada de "gata-maravilha". Doce, meiga, educada. Uma dama comportadíssima e elegante mesmo quando pequena. Desde que a peguei no colo pela primeira vez passou a ser a minha sombra. Uma fiel dama de companhia de quatro patas, cujos pelos longos e armados lembravam uma saia de várias anáguas. Andava atrás de mim o tempo todo, com a cauda bem empinada, com se fosse um estandarte medieval. Conversávamos sem parar, e brincávamos de esconde-esconde pelo menos uma vez por dia. Esparramava-se em cima dos dicionários enquanto eu trabalhava. Sentava-se no meu colo para ouvir música ou ver TV. Batia de leve com a pata no meu braço quando queria cafunés. Adorava ouvir filmes em italiano, mexendo as orelhas para lá e para cá. Dormia em cima da minha cabeça ou deitada no travesseiro ao meu lado. Perdi a conta das vezes que acordei toda suada porque ela estava enrolada na minha testa tal qual um gorro de cossaco russo.
Há 15 anos, Teresa foi o único - eu disse o único - bem material que trouxe comigo depois que meu primeiro casamento, de 12 anos, terminou em um divórcio nojento, do qual sai somente com ela debaixo do braço. Fomos morar, literalmente com uma mão na frente e a outra atrás, em uma quitinete no centro velho de São Paulo, na Rua Dona Veridiana, tendo prostitutas e travestis como vizinhos e nada além de um colchão de solteiro no chão. E não tenho nenhum pudor em dizer que se não fosse por ela, se não tivesse a responsabilidade de levantar da cama para cuidar dela, se ela não me fizesse rir com suas piruetas e macaquices e se não me desse inúmeros "beijinhos" esfregando carinhosamente o nariz minúsculo no meu, eu teria morrido de depressão e de tristeza naquela época. Quando ficava deitada à noite, olhos arregalados presos ao teto, sem saber como, quando ou se iria me recuperar emocional e financeiramente, um pequeno e suave motorzinho ronronante abafava o som violento da minha taquicardia e me fazia dormir. Eu devo minha sanidade mental a esta gata. Foi a existência dela na minha vida que transformou o que seria voltar para uma casa vazia depois do expediente em voltar para um lar.
E foi essa gata que esteve ao meu lado por 17 anos passando pelo bom, o ruim (quando por meses o dinheiro só permitiu compartilhar a mesma monótona refeição - um copinho de Miojo) e pelo excelente pois viveu o suficiente para conhecer Jorge e sentir o sol e o cheiro da maresia de Floripa.
Teresa faleceu hoje, às 14h40. Pude ouvir meu coração trincar de dor. Sentirei uma falta imensa daquela carinha amassada que, debaixo do ar severo e sisudo, escondia um interior de ouro.
Quem nunca amou um animal de estimação não vai entender jamais a sensação indescritível de perda. Os que lêem isto e fazem parte da irmandade de seres humanos que sabem o que é entregar seu coração a uma bolinha peluda sabem ao que me refiro.
Vou me afastar do blogue por alguns dias, para dar um repouso à alma e ao coração.
;-((((((((((((((((((((((((
Posted by: Fer Guimaraes Rosa | 02/02/2007 at 16:51
Ô Maura, que dó.
Mas ela viveu uma vida boa, né? (Tive uma que viveu até os 18 anos. Não sei se é mais difícil quando eles partem novos ou velhinhos...)
Posted by: Solange | 02/02/2007 at 18:35
:-(
Vi seu recadinho referente ao post que fiz em Janeiro contando do falecimento da minha querida Mia.
Sei que não há o que dizer. Mas estou aqui, e estarei quando você sentir vontade de conversar.
Receba um abraço apertado.
Posted by: Bia Badaud | 02/03/2007 at 18:15
Teresa, muito obrigada por ter cuidado dessa amiga querida - mesmo sem ter consciencia do bem que estava fazendo a ela e, consequentemente, a nós que tanto a amamos.
Maura,meu coração está com voce.
Bjs!
Posted by: Eveli | 02/03/2007 at 22:27
Estou emocionada . Parabéns por tanto AMOR.
Abraços
Vera
Posted by: Vera | 02/04/2007 at 10:07
Maura, estou me acabando de tanto chorar com este post. Receba um afetuoso abraço virtual, minha querida, pois somente um gesto amoroso ajuda em uma hora dessas.
Posted by: Marina | 02/04/2007 at 10:35
Tenho 64 anos e ainda hoje lembro-me perfeitamente da dor que senti há 18 anos quando Balthasar morreu. A honestidade de seu texto umedeceu meus olhos e tive que parar para pigarrear embaraçado várias vezes (li o Diário no escritório) e disfarçar a comoção que senti. Teresa foi um animal de sorte pois foi amada profundamente e vê-se nas fotos - lindas, diga-se de passagem - que ela retribuiu com a mesma intensidade.
Fique bem, Maura, repouse o coração.
Abraços emocionados.
Raul
Posted by: Raul | 02/04/2007 at 10:42
Oh! Maura, que aperto no coração que pena que ela partiu com tantas estorias juntas e como ela foi sua companheira. Fica aqui meu carinho de sempre e minha vontade de ir de encontro a suas tão lindas palavras.....
A Teresa sempre estará contigo, viu!
beijos
Posted by: Ingrid Littmann | 02/04/2007 at 14:59
Maura, fico triste com voce; espero que as coisas boas da Teresa falem mais alto e ajudem a diminuir a dor. beijo no coraçao!
Posted by: anlene | 02/04/2007 at 16:36
querida .... todo o meu sentimento, carinho e amor!
força amiga querida!
beijos
Posted by: angela | 02/05/2007 at 08:29
Sinto muitíssimo, Maura. :(
Posted by: Mary | 02/07/2007 at 04:49
:-((((( sinto tanto... força...
Posted by: Kieren Valente | 02/07/2007 at 11:31
Há momentos que o silêncio vale mais que as palavras... De todo meu coração.
Posted by: João | 02/07/2007 at 12:09
Teresa vai viver para sempre no seu coração, Maura. E eu acredito que ela agora está em paz, no céu de todos os seres bons e verdadeiros, e continuará olhando por você. Um beijo amigo
Posted by: Teresa | 02/07/2007 at 13:59
Maura, lamento de coração por sua perda. Também tenho animal de estimação e posso imaginar a sua dor. Também vou sentir saudades da Tereza, ela já fazia parte do seu blog. Procure ficar bem. Beijos. Jania
Posted by: Jania Teixeira | 02/08/2007 at 09:02