Foi um amigo quem me deu a definição e eu me apropriei dela. O Saramago é a Naomi Campbell portuguesa, volta e meia aparece no Brasil, fazendo beicinho e é mal humorado. Só não é bonito como ela.
Saramago está novamente em solo brasileiro para lançar seu novo livro. Como de praxe, a mídia e o público em geral curvam-se e babam-se todos em cima do escritor. Não, eu não gosto do Saramago. Não gosto da pessoa, não gosto do seus ares de grande senhor, não gosto do ar condescendente como trata as pessoas no Brasil. E os livros dele me dão sono.
Enfim, como de costume, Saramago dá uma entrevista à revista Época (bem-humorado, destaca o repórter logo na abertura) onde dispara sua metralhadora giratória contra Brasil, Portugal e o mundo, agora usando a camiseta do Greenpeace por baixo do terno feito sob medida em Saville Road.
Ah, esses comunistas...
Trechos abaixo. A íntegra da entrevista está aqui. A coletiva de imprensa, aqui.
Tenho viajado. Continuo a revezar estadas em Lanzarote (ilha espanhola) e em Lisboa, eventualmente Paris. Estou por toda parte. Mas continuo a pagar meus impostos com regularidade em Portugal. Ninguém pode me acusar de evasão de divisas!
Hoje Lisboa não tem mais condições de ditar regras para o português. Os portugueses já não são mais os donos da língua.
O Greenpeace me convidou a adotar papel reciclável controlado para a edição de meus livros e isso me pareceu uma atitude válida para ajudar a preservar as florestas. Em boa parte do mundo, inclusive no Brasil, meu novo livro será impresso em papel controlado.
O desgaste que o governo Lula sofreu é muito forte. Depois de tantas esperanças, não imaginávamos que escândalos de corrupção tomassem o governo Lula, que representava uma luz nova para um mundo cada vez mais mergulhado em interesses mesquinhos. Ele não poderia ter admitido a corrupção, e não consegue mais combatê-la.
A esquerda atravessa um deserto e não consegue chegar a um oásis. [...] Em Portugal, apóio a candidatura de Mário Soares (do Partido Socialista Português). Pode ser que não seja um milagre, um novo Sebastião, mas pode fazer alguma coisa pelo país, a reboque dos interesses do capital econômico.
Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo. Como podemos ser otimistas diante de um planeta onde as pessoas vivem tão mal, a natureza está sendo destruída e o império dominante é o do dinheiro?
Um P.S.: Saramago agora resolveu defender a Amazônia, as florestas. Alguém ai em Portugal sabe se ele também se preocupa com os incêndios em Portugal? Não ouvi nenhuma declaração deste senhor a respeito disso. Humpf.
Ele já foi uma pessoa interessante, com quem era divertido conversar (desde que não fosse sobre política, porque aí baixava o comunista hidrófobo); mas a idade as honrarias não lhe fizeram bem, de jeito nenhum. E há uma coisa que acho imperdoável: ele retirou de Memorial do Convento a dedicatória que fez à Isabel, sua segunda mulher, e grande incentivadora, quando se casou com a Pilar.
Posted by: Cora | 11/09/2005 at 20:38
Não sabia disso. Agora é que embirrei de vez com ele. Que gesto absolutamente detestável.
Posted by: Maura | 11/09/2005 at 21:00