Meu pai detestava despedidas. Fugia delas. Viajava de madrugada só para evitar que alguém o levasse ao aeroporto ou rodoviária. Quando era absolutamente inevitável dava um abraço ou um bejo veloz, e enfiava-se no portão de embarque ou entrava correndo no ônibus e não olhava mais pela janela.
Minha mãe adora despedidas. É daquelas que fica dando adeusinho com a mão até ela sumir ou a pessoa que parte desaparecer. É daquelas que fica esperando o avião levantar vôo, ou fica na plataforma da rodoviária do lado da janela do ônibus. Consegue transformar uma prosaica saída de Jundiaí para São Paulo na despedida de Casablanca.
Eu sou que nem meu pai. Dura por fora, algodão por dentro. Detesto adeuses e seus aparentados. E, desde ontem ando numa maratona emocional de despedidas que tem me deixado de rastros. Começou no café da manhã com uma amiga muito querida e terminou com um jantar com os que são a minha família de escolha, os meus amigos mais chegados.
Neste jantar, num determinado momento olhei ao redor da mesa e não pude deixar de sentir-me absolutamente abençoada e grata aos deuses. O homem que eu amo sentado na minha frente. Amigos tão, mas tão queridos que laços de sangue não se comparam ao afeto que me une a eles. Sem falar no acréscimo da D. uma doçura de uma amiga nova em uma das extremidades da mesa.
E, ao mesmo tempo que meu coração inflava por causa de todo esse carinho por eles, também ficava apertado em saber que domingo, parto novamente e só os verei de tempos em tempos, quando as rotinas alheias e os meios financeiros de cada um deles assim permitir.
Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida
- Milton Nascimento e Fernando Brandt