Eu sou tradutora. Tenho um escritório no Brasil, comandado atualmente pelo meu melhor amigo e sócio e há quase um ano tento, sem sucesso, iniciar uma filial européia deste escritório em Portugal.
O 'sem sucesso' deve-se ao fato de que neste período, eu fiz mais de 700 contatos por email com empresas e entidades européias, incluindo portuguesas. Das 100 e poucas empresas que solicitaram a apresentação de meu escritório, 5 foram portuguesas.
Destas 5, resultaram os seguintes projetos: em julho, uma tradução altamente confidencial - um currículo vitae - para o presidente de uma empresa de informática de Braga procurando emprego nos EUA, cujas referências incluem ex-ministros, e que nunca me pagou. Em setembro, uma multinacional, cujo diretor financeiro resolveu mudar a forma de pagamento no dia do vencimento da fatura, pagou com atraso e nunca pagou a multa contratual. Em dezembro, uma agência de comunicação surgiu com uma proposta de avença absolutamente medieval, onde com as minhas despesas e impostos eu acabaria por pagar para trabalhar para eles.
E sexta-feira passada, a cereja do bolo: uma empresa que, depois de 10 dias trocando vários emails comigo pedindo orçamento, detalhando o trabalho, definindo prazos, acertando inclusive a criação de uma equipe de 3 tradutores portugueses para atender às necessidades do projeto, simplesmente voltou atrás no acordo firmado por causa do meu sotaque brasileiro em nosso primeiro contato telefônico.
Em compensação, neste mesmo período, já trabalhei sem problemas para novos clientes na Espanha, Irlanda e Bélgica. Empresas com o trato e a atitude profissional a que me habituei com os meus clientes no Brasil, Estados Unidos e Canadá, países onde já vivi e trabalhei, e onde nunca encontrei uma atitude de negócios como a do gerente do banco (Espírito Santo) que abriu a minha conta, que me disse que para obter um cartão de crédito eu deveria "fazer por merecer". Desnecessário dizer que continuo usando meus cartões internacionais.
É um processo tão simples, minha gente: uma empresa me contata, tratamos dos detalhes, acertamos um preço, eu entrego o trabalho, eles me pagam. Ninguém nos EUA, Canadá, Espanha, Irlanda ou Bélgica ficou preocupado com a minha nacionalidade, o que eles procuram é um trabalho profissional, competente, por um preço justo para os dois lados. Ponto final.
Em resumo: eu estou cansada. De apresentar um projeto sólido e válido, 23 anos de experiência, dois bacharelatos e um mestrado, e ser desconsiderada por ser brasileira. Caso a situação permaneça a mesma, nos próximos dois meses, parece-me que será altura de levar a sério o conselho de um empresário do Porto, que tem muito mais experiência do que eu no mercado português: ou seja, caros leitores, pode ser que em breve este blog passe a ter a sua redação em um outro lugar.
Ainda acredito que há empresas sérias aqui em Portugal. Empresas responsáveis, profissionais, que assumam os seus compromissos. E que tenham a mentalidade de investir. Como eu investi na minha equipe de bons tradutores portugueses. Empresas com mentalidade européia. Só que ainda não tive a sorte de encontrar uma, devem andar bem escondidas.
E esta é a minha dificuldade de trabalhar em Portugal.
Maura dou a maior força. Você tem a vantagem de estar na Europa onde existe uma mobilidade entre os diferentes paises. Nao conheço Portugal, mas acho que esses problemas sao devido a uma certa mentalidade meio atrasada e também às dificuldades econômicas (deve ser por causa disso também que existe um certo « racismo » ou xenofobia). Bola pra frente, acho que o que você tem vontade de fazer é a mesma coisa que varias empresas privadas ja fizeram. E você viveu no Canada menina, onde ? Beijos
Posted by: Ana Lucia | 02/08/2004 at 18:24
Maura, fico indignada contra esse tipo de coisa. Concordo com a Ana Lúcia e acho que você tem uma mentalidade (evoluída) que não combina com a do pessoal do país onde você está. Eu sou revoltada contra as injustiças e esta dos portugueses é uma que eu nunca vou digerir.
Posted by: Tereza (Bruxelas) | 02/08/2004 at 19:58
Este post deixou-me doente. Sou portugues.
Posted by: Vasco do Ginjal | 02/08/2004 at 20:43
Digníssima amiga, sensibilizei-me com sua história. Acredito que esses difíceis momentos acontecem não em Portugal, mas na cabeça de mentes dementes que não se dão conta da verdadeira essência das coisas. (des)valorizar uma pessoa por sua etnia, origem, status socio-econômico é um preconceito característico a pessoas indignas à humanidade. Concordo com você que existem bons empresários em Portugal! Sugiro que dê mais um tempo e tudo vai se acertar!
Outra coisa: que história é essa ter 4 girafas como vizinhas? Fiquei interessado pois faço coleção de girafas. A essa altura, já perdi a conta. Em breve chega minha máquina fotográfica digital e farei um fotolog para elas!
Abraço fraterno!
Posted by: Rafael Reinehr | 02/09/2004 at 09:53
O eterno problema de visitar a terrinha e ficar surpreendido por ingleses, holandeses, belgas,etc terem sucesso em Portugal e brasileiro ser tratado com desconfiança, ser tratado tomando como exemplo o elevado número de "nordestinos" a tentar sobreviver em Portugal.
Infelizmente injustiças resultantes de fluxos migratórios.
Posted by: n@o | 02/09/2004 at 16:37
OI, acho que a foto que vc colocou pra ilustrar o texto fala mais que mil palavras, parece que internamente vc jah estah mesmo procurando novos horizontes. :) Boa Sorte!
Posted by: Laudenice | 02/10/2004 at 18:59
De tudo o que ficou mais forte foi a demonstração de desrespeito!
Posted by: Vania Beatriz | 02/11/2004 at 00:36
Olá Maura,
Quer saber de uma coisa: se inclua fora dessa... Ou seja, pelo que voce conta, a experiencia aí na terrinha já deu o que tinha de dar. Vai pra Espanha,onde acho que voce vai ser mais feliz.
Enfim, recebemos o seu email... Estou dando uma olhada por aí...
Um abracao,
Renato
Posted by: Renato Guimaraes | 02/11/2004 at 03:03
Maura, este é, infelizmente, o meu país. Que eu amo, mas que é tão provinciano e pequenino em questões tão fundamentais como o respeito pelos outros (outros=diferentes de nós). Fico a torcer para que tudo dê certo. Em Lisboa ou em qualquer outra cidade…
Posted by: bárbara | 02/11/2004 at 10:56
Cara Maura,
em 1º lugar, não desanime. Se você mudar para outro país, em qualquer momento e hora, que não seja por isso.
Desde que eu cheguei por cá, lá pelo inicio dos 90 que eu aprendi com alguém do Porto também, "não acredite em tudo que os portugueses dizem ou prometem, a maioria não é para cumprir..." e, naquela época não havia nenhum brasileiro na cidade do Porto.
O empresariado português ( com a desculpa da crise) está cada vez pior no que respeita a pagamentos e cumprimento da palavra dita. Você ser brasileira é uma excelente desculpa para o calote ou a "desconfiança". Antes de ter uma impressão totalmente negativa porque você não tenta contactar pessoalmente com o empresariado mais jovem tipo ANJE (Associação Nacional do Jovem Empresário)e , no feminino, para conferir se não trata-se antes de algo tipo "clube do bolinha" ?
Muito axé menina !!!
Posted by: Heitor Santos | 02/11/2004 at 21:49
Oi Maura,
Simpatizo completamente com a tua falta de paciencia, deve ser mesmo muito frustrante levar calote(s).
Mas acho que o Heitor deu uma tremenda bola dentro com o comentario dele.
Bjs e bola p/ frente,
Gui.
Posted by: Guilherme | 02/12/2004 at 04:49
E eu que pensava que andava a berra sozinho pela net...
Ainda bem que alguém diz o que por aí vai, talvez percebam porque é que para alguns empresários viverem bem, apesar da sua incompetência, é todo um país que fica para trás!
Fica prometido o devido destaque amanhã, no meu humilde Palheiro!
Houve aí um grupo de empresários que reuniu e elaborou o famoso Compromisso Portugal; esqueceram tanta coisa que tal documento afinal não é mais do que um Compromisso Banal.
Um abraço
Posted by: Jumento | 02/12/2004 at 14:43
eu nunca falei mal de portugal enquanto estive aí, o que dia que isso começou eu vim embora. depois de 14 anos estou no brasil de novo. vc pode imaginar o tamanho da minha felicidade. mas não posso deixar de estar solidário com vc. força nos remos. nem que seja para remar para trás.
Posted by: filho | 02/12/2004 at 14:56
Maura,
ja viste? O FJV passou-te um atestado de português perfeito!!!
http://aviz.blogspot.com/2004_02_01_aviz_archive.html#107654617719013942
Esfrega-o no nariz dos teus clientes maus pagadores...
Agora a serio: ele não fez por mal, mas se até ele partilha da presunção que um brasileiro normalmente constituido não fala um português perfeito, o que esperar da gleba?
Talvez noutro ramo de actividade menos linguistico nao tivesses tantos problemas: mas reconhecer que o preconceito existe nao é justifica-lo, e muito menos aceita-lo.
Desistir é possivel, e deixaste atras de ti muita malta com saudades, pelos vistos. E quem sou eu para te exigir que nao desistas? Espero, todavia, que nao o tenhas de fazer. Seria uma perda para todos nos.
Posted by: Vasco do Ginjal | 02/12/2004 at 16:41
Maura,
sou tradutor, português, trabalho no Porto e raramente faço um trabalho para empresas portuguesas. Porquê? Porque a maioria paga tarde e a más horas.
Em compensação, com o estrangeiro ainda não tive problemas.
Se um te recusou por seres brasileira, acredita que o que te aconteceu com os outros acontece também aos tradutores portugueses. Tenho até um organismo oficial que me deve traduções desde Janeiro 2002.
Espero que consigas o que queres.
Posted by: Rui Oliveira | 02/12/2004 at 17:41
Cara Maura,
sou portuguesa e quando li a sua entrada fiquei com vergonha, mas também me ri porque reconheci os perfis do pessoal aí descrito. Mandei imediatamente uma cópia do seu artigo para o meu marido que, trabalhando como consultor, todos os dias me relata situações semelhantes - maus pagadores, sem palavra, vigaristas mesmo - é essa a palavra! E o mais "engraçado" é que este comportamento não vem de pequenos e modestos empresários, mas de gente com dimensão e com qualificação - os directores e os presidentes, gente que deveria estar acima deste tipo de comportamentos. Quanto engano!
É verdade que estamos mal habituados com os brasileiros recém-chegados a Portugal, na sua grande maioria vêm dedicar-se a actividades menos recomendáveis. Mas é preciso que muitos como você não desistam e esfreguem na cara dos muitos portugueses nada recomendáveis as suas qualidades e a sua verticalidade.O António sempre diz, mesmo cansado depois de muitos revezes como você, " Há mais marés que marinheiros".A sua maré há-de chegar e nessa altura pontapé neles, mas de mansinho porque dá mais gozo.E sem remorsos, eles precisam de pontapé para aprender!
Não desista, porque a paisagem portuguesa é muito homogénea a puxar para o mau e precisamos de sangue estrangeiro e novo a puxar para o muito bom.
Boas!
Posted by: miucha | 02/13/2004 at 15:10
vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança vem pra frança ...
nao vai melhorar tanto a historia, mas pelo menos estaremos pertinho!
Posted by: Flabb | 02/13/2004 at 16:25
Ó Maura, bem vinda ao maravilhoso mundo português :-)
Posted by: São Rosas | 02/13/2004 at 19:10
Uma das nossas grandes desgraças quase nunca falada nos média.... Bem vinda, começa no estado e passa a todos.Só te safas metendo medo com processos e sendo agressiva, não tenhas relutância em obrigar a um contrato assinado ou mais prosaícamente a telefonares todos os dias para receber o dinheiro. Se estás a pensar em implementar a empresa cá, aconselho-te a teres um advogado se compensar,inicialmente o técnico de contas também te pode dar indicações úteis.
Posted by: lucklucky | 02/13/2004 at 21:34
Na Galiza, na nossa empresa, os nossos clientes são galegos e portugueses na sua maioria ainda que há também de Catalunya, Andalucía, Euskadi, Deutschland, United Kingdom, South Africa, Namibia,... mas noutro ramo de actividade.
Maus clientes há por todas partes e se alguém recusa por seren brasileiros não é bom cliente.
Força e muito traballo é a única receita; e lembra que não há lugar fora do Brasil onde os brasileiros são mais queridos que cá na Galiza ;-)
Posted by: opaco | 02/14/2004 at 23:37
Dizer mal de Portugal deve ser um rigoroso exclusivo dos portugueses!!!
Agora a sério. Você acha mesmo que "lhe ferraram o cão" aproveitanso o facto de ser brasileira?
Então, e que dizer das multinacionais que se instalaram em Portugal, acumularam riqueza sabe-se lá como, e que aproveitando a onda deslocalizaram a empresa deixando os seus trabalhadores sem salário e sem emprego?
Você, afinal de contas, é uma sortuda !
E, já agora. O Brasil deve ser um país admirável, porque, ao que julgo saber, não há nenhum português entre os milhares emigrados no Brasil, que tenha uma só razão de queixa do empresariado brasileiro! Nunca, mas nunca, algum português ficou por receber o que quer que fosse das empresas brasileiras.
Eu só não emigro porque não me apetece.
éri
Posted by: Luís Monteiro | 02/17/2004 at 08:29
Minha querida, é uma vergonha; há muita coisa que deve, que tem que ser mudada para entrarmos na Europa comme il faut!!!
Contudo, espere que fique cá, porque há coisas e
pessoas que mereçem que perca tempo com elas.
Eu sou secretária, falo françês e inglês e por vezes trabalho como tradutora freelancer. Se a puder ajudar, contacte-me.
Um abraço
Marta
Posted by: MARTA TEIXEIRA | 02/17/2004 at 10:52
No te desanimes chica!!! El primer año es el más difícil (Que??? Se cayó el telón…) y si te gustan las cosas difíciles has elegido bien (Te tendrás que acostumbrar)... Con el tiempo encontraras lo que buscas y no querrás regresar. Los portugueses detrás de esa apariencia y diligencia, son expertos... (No hay cabida al ingenuo) tu nacionalidad no tiene nada que ver (El trato es generalizado). Lo que sucede es que ya se te junto todo y extrañas mucho a los tuyos. Animo, y no bajes la guardia. (Suerte!!!).
Bjs e um abraço,
Abraham
Posted by: Abraham | 03/28/2004 at 23:26
Maura,
Entendo o que você está passando pois passo a mesma coisa. Moro em Portugal e vim para cá somente por causa do meu marido que é português. Mais de um ano passou e eu, até hoje, não consegui encontrar uma vaga em minha área de trabalho (administração em marketing) pois é aquele negócio, abre-se a boca e as pessoas notam que tem nacionalidade brasileira as portas são fechadas na mesma hora! Dá uma raiva! E não é só em emprego como nas ruas também, muita gente mau educada!!! De qualquer modo gostaria de voltar a trabalhar na minha área profissional que eu tanto gosto mas aqui é díficil, deste modo, muitos dos brasileiros que estão aqui, enquanto não conseguem o emprego ou a empresa que consiga vê-los com olhos profissionais e habilitações que estes realmente têm, vão levando a vida no comércio, salões de beleza ou limpeza de casas. E isso, graças a imagem que o brasileiro passa aqui, de prostituta, de ladrão, ou trapaceiro, é duro mas é assim que as coisas são deste lado do Altântico.
Posted by: Joyce Alberti | 04/01/2004 at 08:37