Com o inverno chegando chegam as bebidas que "devolvem a vida e põem o sangue a correr". Entre elas encontram-se os grogues quentes que estão presentes, por exemplo, nas páginas de "Os Maias" e de outras obras de Eça de Queiroz escritas nas últimas décadas do século XIX. No início deste romance, publicado pela primeira vez em 1888, descreve-se o acidente sofrido por Tancredo, um príncipe napolitano, durante uma caçada na quinta da Tojeira, de Pedro da Maia. A convalescença do estrangeiro seria amenizada com guitarradas e grogues quentes. Em outra passagem, João da Ega e Carlos da Maia viajam de tipóia, debaixo de chuva intensa, para os Olivais. Quando chegam à quinta do Craft, de madrugada, o inglês "apareceu de robe de chambre, surpreendido com o tumulto". Enquanto Ega e Carlos explicavam ao que vinham, o Craft preparou metodicamente, sem espanto ou exclamações, três grogues de conhaque e limão.
A obra de Eça de Queiroz, aliás, é um verdadeiro tesouro de referências gastronómicas e enológicas. Nenhum outro escritor português inclui tantas alusões a comidas, bebidas, refeições, restaurantes, cafés e botequins. Um especialista em Eça, o brasileiro Dário Castro Alves, encontrou quase 4500 citações. Segundo ele, existem mais de 1300 referências queirosianas à bebidas alcoólicas em geral - do absinto à zurrapa - que nos ajudam a perceber os hábitos da sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX. As citações mais frequentes referem-se a vinho, champanhe e genebra. O estatuto social das personagens traduz-se, naturalmente, no tipo de bebidas que elas levam à boca. Nas tabernas de Lisboa, por exemplo, bebe-se o vinho da região, servido diretamente da pipa. Também existem referências a aguardente de cana branca e copos de cerveja. Mas quando o conselheiro Acácio (em "O Primo Basílio") comemora a sua nomeação para cavaleiro da Ordem de Santiago, abrem-se diversas garrafas do melhor champanhe de Epernay. No final do jantar, com os charutos, chegam os licores, o curaçau e o conhaque.
Grogue de Brandy:
50ml brandy
25ml suco natural de limão
1 colher (de sopa) de açúcar
120ml água quente
Misturar todos os ingredientes diretamente num copo com asa ou xícara. Mexer bem. Os grogues poderão ser decorados com cascas de limão ou laranja. Às vezes adiciona-se um pauzinho de canela ou cravo. Nos livros de Eça de Queiroz, o brandy - o romancista, no entanto, refere-se sempre a "conhaque" - é bebido simples, com água ou em grogues quentes. Algumas personagens, como o Carlos da Maia ("Os Maias"), bebem conhaque e soda, à "maneira inglesa".